Você conhece o Equador e sua Literatura (2)? 

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Rosemary Conceição dos Santos* 

De acordo com J. Rosas Ribeyro, em seu texto publicado em 11 de junho de 2021, na “Kipus”: Revista Andina de Letras e Estudos Culturais, “Muito pouco, quase nada, se sabe na Espanha sobre a narrativa do Equador. Só muito recentemente foi divulgada a obra de Mónica Ojeda, com os romances “Nefando” (2016) e “Mandíbula” (2018), ambos publicados pelas edições Candaya, que também achou por bem propor ao público leitor “Sanguínea” (2020), primeiro romance da também equatoriana Gabriela Ponce. Deve-se notar que a excelente recepção da narrativa de Ojeda na Espanha tornou-a uma referência para os romances latino-americanos atuais. Porém, no que diz respeito à história, ao conto, não houve publicação até o aparecimento em 2020 de “Ecuador en corto: antología de relatos ecuatorianos actuales, antologia preparada por Carlos Ferrer e editada por Prensas de la Universidad de Zaragoza, em sua coleção Oceanos e Livros”. 

‘Carlos Ferrer (Benidorm, 1976) é um acadêmico espanhol que realizou pesquisas sobre o teatro hispânico contemporâneo e já fez uma incursão anterior na literatura equatoriana com um trabalho sobre aquele grande escritor que foi Pablo Palacio, que, infelizmente, não é conhecido tanto como merece fora do Equador. Ferrer tem laços profundos com aquele país, onde viveu e trabalhou, e com o qual mantém relações afetivas e familiares, sendo companheiro da excelente poetisa Bernardita Maldonado (Loja, 1969). Em sua breve “Introdução” ao Equador, antes de lançar um olhar panorâmico sobre a história equatoriana anterior, e especificar algumas características dos autores e das obras selecionadas, Carlos Ferrer escreve: ‘Esta é uma janela, uma visão global do que foi escrito e é escrito no Equador, um país ancorado na periferia literária e ofuscado primeiro por um boom latino-americano, que praticamente passou sem levar em conta o Equador, e depois por um Roberto Bolaño, que ofuscou a todos, independentemente de quererem parecer ele ou não.’ E mais tarde, explicando os princípios que nortearam a sua obra, Ferrer afirma: ‘Esta antologia é composta, sem quotas regionais nem razões de sexo ou idade, por escritores de diferentes gerações, reconhecidos e novos, todos com uma pulsão literária que não se dilui e que se aprofunda na investigação das ruínas da existência e na conspiração da tentação do silêncio’. 

“Ecuador en corto”, ainda segundo o especialista, “reúne vinte e oito contos de outros tantos escritores contemporâneos, nascidos entre 1941 e 1996, sendo o mais velho Marco Antonio Rodríguez e o mais novo Andrea Paola Armijos. Quinze dos autores nasceram nas décadas de 1940 e 1950, constituindo assim o maior grupo da antologia. Em quase todos os casos, trata-se de narradores que abordam o gênero curta dentro de parâmetros bastante clássicos, praticamente não deixando espaço para experimentação formal. São histórias bem escritas, que mostram um uso cuidadoso da linguagem e podem ser incluídas dentro dos subgêneros já conhecidos: costumbrismo, realismo urbano, realismo mágico, história fantástica, etc”. Como leitor, J. Rosas Ribeyro afirma não poder evitar certas preferências após a leitura e foca algumas delas. “Em ordem cronológica, a primeira que mais me chocou é uma história do gênero fantasia com – eu diria – cunho cortazariano. Intitula-se “Dispersão dos Muros” e conta como uma comunidade que vivia em paz, ‘num silêncio agradável’, ‘sem gritos, sem risos inesperados’, ‘sem aquele ir e vir monótono de bolas de borracha’ é subitamente vista invadida pela presença sonora de inúmeras crianças, o que acaba por produzir terror na população. O autor é Francisco Proaño, nascido em Cuenca, em 1944. “A luz no abismo” é outra das histórias que mais me chamou a atenção. É, creio, um dos mais inovadores do grupo, do ponto de vista formal. Nele se cruzam várias vozes em primeira pessoa, que giram em torno dos cuidados de Pablito, um admirado escritor que se encontra em estado catatônico e a quem procuram proteger de sua imobilidade, silêncio e pesadelos. Não há dúvida de que se trata de uma evocação do último período da vida de Pablo Palacio, marcado por doenças e diversos distúrbios psíquicos. A história é contada de uma forma que de alguma forma remete à prosa do próprio Palácio. O autor é Jorge Dávila, nascido em Cuenca, em 1947”. 

Outras histórias que também impressionaram o crítico foram “Aeroporto” e “Ela, quem era ela?”, além de “Apito da morte um blues”, e “A lição”. Por sua vez, J. Rosas Ribeyro também apontou algumas omissões na antologia: a ausência dos contos de Miguel Donoso Pareja (Guayaquil, 1931), bem como, dos contos de Raúl Pérez Torres (Quito, 1941) e dos contos de Mónica Ojeda, ainda que o seu muito elogiado livro de contos “Las Voladoras” tenha sido publicado depois de Equador em Curtas. Vale conferir. 

Professora  Universitária* 

 



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