
Divulgação/RIW
Para Peter Diamandis, estamos vivendo o melhor momento de todos os tempos. “Hoje é sempre o melhor dia, exceto por amanhã, que será ainda melhor”, disse à Forbes, pouco antes de palestrar no Rio Innovation Week, na última semana.
O empresário e autor visionário se entusiasma ao ver se concretizar aquilo que acompanhava em Star Trek, uma das paixões que despertaram seu interesse pelo espaço.
Formado em genética molecular e engenharia aeroespacial pelo MIT e doutor pela Faculdade de Medicina de Harvard, Diamandis dedicou sua carreira a criar mais de 25 empresas em áreas como tecnologia espacial, saúde, educação e venture capital. É fundador e CEO da Fundação XPRIZE, que promove competições de inovação para enfrentar grandes desafios globais, e da Singularity University.
Autor de quatro best-sellers, incluindo “Abundância: O futuro é melhor do que você pensa”, compartilha sua visão otimista e apaixonada pelo potencial da inteligência artificial – “a tecnologia mais poderosa do mundo, gratuita e acessível”. Segundo ele, a velocidade das transformações tecnológicas nos próximos dez anos superará tudo o que vimos nos últimos 100. “A IA multiplicará nossas capacidades, permitindo que as pessoas vivam vidas com propósito.”
No palco principal do RIW, redefiniu esse conceito: “IA é Inteligência Amplificada, não Artificial. Quanto mais inteligente você for, mais inteligente a IA se torna”, afirmou.
A seguir, confira os destaques da entrevista com Peter Diamandis, do futuro do trabalho à educação.
Forbes: Como você chegou a esse ponto da sua carreira?
Peter Diamandis: Eu segui minha paixão. Cresci em uma família de imigrantes gregos, onde era esperado que eu me tornasse médico porque meu pai fez medicina. Fui para a faculdade de medicina, mas minha paixão na verdade era o espaço. Percebi que o melhor jeito de prever o futuro é criá-lo você mesmo. Comecei a trabalhar para criar o futuro que eu queria. Fiz isso como empreendedor, construindo empresas espaciais durante 20 anos – empresas de gravidade zero, satélite e uma universidade espacial. Depois, foquei em como tecnologias exponenciais poderiam resolver os maiores problemas do mundo. Trabalhei com isso por uma década e mais recentemente me concentrei em longevidade e IA. Sempre segui meu coração e encontrei pessoas brilhantes para trabalhar comigo.
O que inspirou sua paixão pelo espaço?
No início, foi o Programa Apollo e a série de TV Star Trek. Apollo me mostrou o que a humanidade pode fazer agora, e Star Trek me mostrou para onde estávamos indo. Juntos, eles me deram uma visão de um futuro muito otimista, e eu segui aquilo com todo o meu coração, sem pensar no que eu não poderia fazer.
Você é bastante otimista, não é? Acredita que estamos caminhando para um futuro melhor?
Eu sou. Acredito que estamos vivendo o momento mais extraordinário de todos os tempos. Hoje é sempre o melhor dia, exceto por amanhã, que será ainda melhor.
Você fundou empresas, escreveu livros, qual o ponto em comum entre todos os seus projetos?
A capacidade de elevar a humanidade e construir um amanhã melhor e mais abundante, curando doenças, duplicando o tempo de vida humana, educando e proporcionando saúde ao mundo. Eu escrevi um livro chamado “Abundância: O futuro é melhor do que você imagina”, baseado na ideia de que a tecnologia está possibilitando resolver problemas cada vez maiores, reduzindo os custos e tornando essas soluções acessíveis a todos.
Como você equilibra essa visão com a ação prática?
A visão dita a minha direção. Eu ensino, escrevo e construo empresas em torno da ideia de que a tecnologia é uma força de abundância. Também defendo a ideia de criar Moonshots [projetos ousados]: definir um objetivo grande para 10 anos, sem saber como chegar lá, mas sabendo que é possível, e dar o primeiro passo.
Falando sobre o que ainda não sabemos, como você vê o futuro e o presente do trabalho?
A maioria das pessoas hoje não ama o que faz. Estão fazendo um trabalho para sobreviver, para colocar comida na mesa. Elas não sonharam com isso quando eram crianças. Minha esperança é que, com robôs e IA fazendo os trabalhos perigosos e chatos, as pessoas possam se dedicar às coisas que amam. Nós vamos ganhar a vida de muitas formas diferentes. Pode acabar existindo uma renda básica universal que fornece dinheiro de robótica e IA gerando valor real na economia. Mas a coisa mais importante para mim é que todos possam viver uma vida com propósito, seja cantar, escrever poesia, fazer arte.
Por outro lado, como enxerga as ameaças da automação e da IA?
A maior ameaça é o medo do desconhecido. A automação sempre mudou o mercado de trabalho, mas não eliminou os empregos. Na verdade, ela cria mais oportunidades e com salários maiores, porque os humanos usam a tecnologia para se tornarem mais produtivos e valiosos.
E sobre a AGI [Inteligência Artificial Geral]? Na sua visão, quando ela deve se tornar realidade?
Eu acho que ela já está aqui. Quando uso o Grok4 [da xAI, de Elon Musk], GPT-5 e, em breve, o Gemini 3, eles já têm mais capacidade do que qualquer humano que eu conheço. É uma linha tênue e poucas pessoas podem definir o que é a AGI, mas para todos os efeitos práticos, ela já está entre nós, e é incrível. Conheço poucas pessoas que não estão felizes por ter esse nível de IA nas suas vidas. Ela pode te ensinar o que você quiser, te permite fazer 10 vezes mais do que você faria. Eu fico super animado com o que já temos e o que está por vir.
Como os líderes podem se preparar para essas disrupções sem entrar em pânico?
Estou lendo um livro chamado “O guia do mochileiro das galáxias” e na capa diz “não entre em pânico”. Então, o mais importante para os líderes é realmente usar a tecnologia. Seja curioso, faça perguntas loucas, aprenda todos os dias, tenha conversas sobre o que você não entende, esteja constantemente se educando, para que você, seu time, todos em sua companhia estejam usando essa tecnologia. Nós temos medo de coisas que não entendemos. E isso é lógico. Nós temos medo hoje porque a velocidade está acelerando. Ter um propósito na vida, seja você um CEO, um executivo, uma mãe ou um pai, e ser curioso e usar a IA para aprender, para mim são os passos mais importantes para se proteger.
Você fala muito sobre ter um propósito. Como você encontrou o seu?
Eu tive sorte no começo, porque eu fiquei tão inspirado com o Programa Apollo e o Star Trek que isso me deu um propósito desde cedo. Foi claro para mim, mas não é para todo mundo. Eu ajudo milhares de pessoas, tenho uma comunidade com 500 CEOs e líderes e a minha missão com eles é encontrar o MTP [Massive Transformative Purpose, ou propósito massivo transformador], algo que faz eles acordarem de manhã e os mantém inspirados durante o dia. Quando as coisas ficam difíceis, e você está cansado ou derrubado, o que te reenergiza? Tem uma ótima frase de Mark Twain que diz que há dois dias importantes na sua vida, o dia em que você nasce e o dia em que você descobre por quê. Nós temos centenas de oportunidades ao longo do dia, pequenas e grandes coisas. Como você escolhe no que focar, com quem passar o seu tempo, o que ler, ouvir ou assistir, deve ser filtrado pelo seu MTP.
Eu criei LLMs, e um deles que as pessoas podem usar é o MyPurposeFinder.ai, que te guia através de uma série de passos para te ajudar a encontrar o seu MTP. Uma vez que você o descobre, esperamos que seja algo que você anuncie para o mundo, que te traga pessoas incríveis e te ajude a decidir como gastar o seu tempo e a sua energia.
Como a educação deveria preparar a próxima geração?
Nossos sistemas de educação não estão fazendo nada para preparar nossos filhos. É ridículo. Eu tenho dois garotos de 14 anos. Ontem, em Porto Alegre, estávamos falando sobre isso. As escolas e os professores têm medo de usar a IA porque acreditam que ela tornaria o trabalho sem significado. Isso é verdade se você der uma atividade do nível de um garoto de 14 anos para um garoto de 14 anos. Mas se em vez disso você pedir para ele projetar uma espaçonave que usa física real para ir visitar a estrela mais próxima, e você o desafiar para pensar muito além dando as ferramentas, eles vão entrar em um mundo onde a IA é fundamental para todos os aspectos da sua vida. Então, por que não ajudamos eles a aprenderem a usar isso?
Olhando para os próximos 50 anos, que futuro você quer ajudar a construir?
Eu quero construir um futuro esperançoso, empolgante e abundante. O que eu quero dizer com isso? Eu quero que todos tenham um futuro que os deixe animados. O problema é que a maioria de Hollywood e alguns dos seus amigos da mídia estão sempre falando sobre mundos distópicos e todas as coisas negativas que a IA e os robôs vão fazer. É deprimente. Por que você vai querer viver nesse lugar? Então, eu quero ajudar as pessoas a ver um futuro positivo, que elas queiram ajudar a criar. Um futuro abundante em que cada homem, mulher e criança tenha acesso a todos os alimentos, água, saúde e educação que eles queiram. Em que toda mãe está animada com o futuro de seus filhos e não tenha medo por eles.