Getty Images

Acessibilidade

L
L
A-
A+

◐

A medicina brasileira vive um momento decisivo. De um lado, cresce a demanda por profissionais de saúde em todas as regiões do país. De outro, nos deparamos com um fenômeno preocupante: a expansão descontrolada de faculdades de medicina e a proliferação de especializações não reconhecidas pela residência médica. Estamos diante de uma encruzilhada e a escolha que fizermos hoje terá impacto direto na qualidade do cuidado prestado à população brasileira nas próximas décadas.

Nos últimos anos, o número de universidades no Brasil aumentou de forma exponencial, muitas delas sem infraestrutura adequada, sem corpo docente qualificado e, o mais grave, sem compromisso com a formação ética e científica que a própria medicina exige.

O que deveria ser um projeto de país para suprir a carência de médicos em regiões remotas virou, em muitos casos, uma oportunidade de negócio dissociada do verdadeiro propósito da medicina: cuidar de vidas.

Ao mesmo tempo, cresce também a oferta de especializações médicas fora do modelo tradicional de residência, com duração reduzida e sem supervisão adequada. Essas formações iludem os médicos mais jovens, oferecendo atalhos para o exercício da medicina, sem a solidez necessária para garantir a segurança do paciente.

Esse cenário, na minha opinião, coloca em risco um dos pilares mais sagrados da medicina: o legado. Cada médico é, também, fruto do ensinamento de seus mestres que transmitiram não apenas conhecimento técnico, mas valores, responsabilidade, empatia e ética. Formar um bom médico leva tempo, exige dedicação, supervisão e prática clínica em ambientes estruturados. Isto leva tempo. Não é – nem deve ser – do dia para a noite. É nesse processo que o profissional se constrói, com senso crítico, humildade e respeito à complexidade humana.

Não estou dizendo que devemos elitizar a medicina, mas nosso papel de médico deve ser preservá-la. Democratizar o acesso à formação médica é essencial, mas isso precisa ser feito com muita responsabilidade e planejamento. Ampliar o número de vagas sem garantir a qualidade do ensino, ou flexibilizar critérios de especialização sem uma base sólida, é colocar vidas em risco e comprometer a confiança da sociedade na nossa profissão.

Precisamos resgatar a ideia de que a boa formação médica é também um investimento no país. Reforçar a importância da residência médica como pilar de especialização, valorizar as universidades e hospitais-escola com excelência comprovada, e estimular programas de mentoria que formem não apenas médicos, mas líderes comprometidos com a transformação do sistema de saúde.

É o que eu tenho feito como Professor Livre Docente, pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e como autor de artigos científicos e de mais de uma dezena de livros publicados no Brasil e no exterior. Transmitir a mensagem correta, assim como fizeram comigo.

E além disso, como membro do board científico da Orentt, uma empresa de educação especializada na área da saúde, vejo programas como o “Grow” (Getting Ready for Opportunity to Win) uma ação surpreendente da iniciativa privada para treinamento interdisciplinar com foco em residentes de diferentes especialidades e médicos recém-formados.

Isto porque contribui para a formação de uma nova geração de médicos especialistas no país, deixando um legado científico, que é o que nós precisamos. Garante a liderança e o pioneirismo em novos métodos de treinamento e desenvolvimento​, forma profissionais com conhecimento técnico adequado em diferentes áreas terapêuticas, além de soft skills, e, ainda, é replicável globalmente.

Formar bons médicos é uma tarefa institucional. É uma missão de cada um de nós, que escolheu essa profissão. Por vocação. Simples assim. O maior legado que podemos deixar não são títulos ou conquistas individuais, mas as gerações de profissionais que formamos (e vamos formar) com integridade, conhecimento e, acima de tudo, amor pela medicina.

É por meio deles que continuaremos cuidando das vidas dos cidadãos brasileiros. E do Brasil.