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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Na sociedade moderna, o crescimento pessoal e o sucesso são frequentemente vistos como objetivos supremos, e é fácil cair na armadilha de se esforçar constantemente para fazer mais e ser melhor.
No entanto, muitas pessoas acabam experimentando um tipo silencioso de exaustão ao longo desse caminho, conhecido como “burnout do autoaperfeiçoamento” (em inglês, betterment burnout).
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Esse esgotamento ocorre quando a busca incessante por melhorias se torna exaustiva, gerando sentimentos de fadiga, frustração e falta de realização, apesar de todo o esforço.
Por exemplo, alguém que está focado no seu desenvolvimento pessoal – lendo livros de autoajuda e trabalhando no seu processo de cura emocional – pode sentir a pressão de estar sempre se aperfeiçoando. Mesmo com todo o empenho, a sensação de que sempre há algo mais para consertar pode ser avassaladora. Pensamentos como “Nunca sou bom o suficiente” ou “Deveria estar avançando mais” podem gerar frustração e a sensação de estar estagnado, em vez de progredindo.
O burnout do autoaperfeiçoamento pode surgir de forma sutil, muitas vezes disfarçado desse desejo de crescimento ou conquista. No entanto, a busca constante por padrões cada vez mais altos, embora admirável, pode ter um custo alto para a mente e o corpo.
Aqui estão três formas de lidar com esse burnout e adotar uma abordagem mais saudável para o desenvolvimento pessoal.
3 maneiras de lidar com o “burnout do autoaperfeiçoamento”
1. Troque a necessidade de desenvolvimento pela autoaceitação
Um dos maiores perigos da busca incessante pelo autoaperfeiçoamento é acreditar que sempre há algo a corrigir ou melhorar. Embora o crescimento pessoal seja valioso, enxergar-se constantemente como um “trabalho em andamento” pode ser exaustivo. A ideia de que você precisa estar sempre curando, evoluindo ou conquistando algo pode criar um ciclo em que a satisfação parece sempre fora de alcance.
A autoaceitação não significa desistir do crescimento, mas abraçar quem você é no presente, mesmo enquanto busca se tornar alguém melhor. É importante reconhecer que o processo de cura e melhoria não precisa ser uma tarefa urgente e interminável.
Pesquisas publicadas na revista científica Human Development mostram que a autocompaixão leva a uma maior resiliência emocional e a uma mentalidade mais saudável, sem os efeitos negativos da busca incessante por melhorias.
A autocompaixão envolve tratar-se com gentileza, aceitar que os erros fazem parte da vida e evitar julgamentos severos contra si mesmo. Isso reduz a ansiedade e aumenta a motivação para crescer de maneira mais equilibrada.
Uma mudança útil de mentalidade é substituir o pensamento de “Preciso consertar isso em mim” por “Eu sou suficiente e escolho crescer no meu próprio ritmo”. Isso transforma o desenvolvimento pessoal em uma jornada satisfatória, em vez de uma corrida sem fim.
Além disso, o crescimento muitas vezes acontece naturalmente, à medida que a vida apresenta desafios. Quando as dificuldades surgirem, você pode lidar com elas conforme necessário, em vez de se manter sob a pressão de que deve estar sempre evoluindo.
2. Defina limites para as práticas de desenvolvimento pessoal
Estabelecer limites para o autoaperfeiçoamento significa entender que o crescimento não precisa ser um trabalho em tempo integral. Nem todo livro precisa ser lido no instante em que você o descobre, nem todo curso precisa ser feito imediatamente e nem toda prática de autoconhecimento precisa ser experimentada agora.
É importante ser intencional, garantindo que suas práticas de autodesenvolvimento estejam alinhadas com suas necessidades atuais, em vez de se sobrecarregar com reflexões intermináveis.
Crie espaço para o descanso e a espontaneidade. Desfrute de atividades que não têm um objetivo específico, como passar tempo com pessoas queridas, dedicar-se a hobbies criativos ou simplesmente estar presente no momento.
Pesquisas publicadas na revista Psychosomatic Medicine indicam que participar de diversas atividades de lazer (em vez de apenas uma) traz maiores benefícios para a saúde mental e física e reduz os riscos de burnout.
Essas atividades funcionam como um amortecedor contra o estresse e melhoram o bem-estar geral. Os pesquisadores sugerem que essas práticas podem ser restauradoras, ajudando a trazer mais equilíbrio e energia para a vida. Às vezes, o crescimento mais significativo acontece quando você se permite relaxar e deixar a vida seguir seu curso natural.
3. Redefina o significado de progresso além da produtividade
Redefinir o progresso significa mudar a mentalidade de que sucesso está atrelado apenas a conquistas e produtividade constante, e começar a valorizar mais a presença e a paz no momento presente.
A sociedade costuma medir o sucesso com base no que conseguimos realizar – quantas tarefas completamos, quantas metas atingimos ou quantos marcos pessoais alcançamos. No entanto, o verdadeiro crescimento não se resume a fazer mais, mas também a ser mais – desenvolver autoconhecimento e aprender a apreciar os momentos de pausa.
Um estudo de 2024, publicado na BMC Medical Education, analisou como a prática de mindfulness pode melhorar o bem-estar, a gestão do estresse e a produtividade de médicos. Os pesquisadores descobriram que habilidades como estar consciente dos próprios pensamentos e emoções, sem julgamento ou reações imediatas, estavam ligadas a melhores níveis de bem-estar e desempenho sob pressão.
Redefinir o progresso envolve ir além das medidas convencionais, como completar tarefas ou atingir metas. Trata-se de uma abordagem equilibrada que prioriza a clareza mental e a estabilidade emocional.
Aqui estão algumas maneiras de adotar essa mentalidade:
- Aceite o progresso lento: Permita-se crescer de forma gradual, absorvendo aprendizados ao longo do caminho, sem pressa.
- Reavalie sua intenção: Faça pausas ao longo do dia para refletir sobre o verdadeiro motivo pelo qual sente a necessidade de melhorar algo em si.
- Defina metas alinhadas com seus valores: Certifique-se de que seu conceito de sucesso respeita seu bem-estar e inclui aspectos realmente importantes da vida, como o convívio social.
- Celebre pequenas vitórias: Reconheça cada avanço, em vez de focar apenas na versão idealizada de quem você acha que deveria ser.
Encontre seu próprio ritmo de crescimento
É fácil comparar-se a pessoas que parecem ser produtivas sem esforço e sentir que você está ficando para trás. A busca constante pela perfeição, onde cada detalhe da vida deve ser meticulosamente planejado e executado, pode ser um fardo perigoso.
Essa comparação pode afetar sua saúde mental, minando sua autoconfiança. Um dos maiores erros é estabelecer expectativas irreais com base no que vemos nas redes sociais.
Tendências que mostram um dia perfeitamente estruturado e aparentemente produtivo podem gerar uma sensação de inadequação ao comparar sua vida com um padrão idealizado. Embora essas trends incentivem hábitos saudáveis, a pressão para segui-las rigidamente pode ser esmagadora, pois nem todo mundo tem as mesmas 24 horas no dia.
Lembre-se de que a otimização constante não é a chave para o bem-estar. O que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Você não precisa acordar às 5h da manhã ou seguir um cronograma rígido para se sentir realizado.
Talvez acordar às 8h funcione melhor para você, ou talvez prefira se exercitar à noite, quando tem mais energia. O essencial é encontrar um ritmo que respeite suas necessidades e seu bem-estar. O equilíbrio, a flexibilidade e o autocuidado devem vir sempre em primeiro lugar.
Escolhas do editor
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.
O post "Burnout do Autoaperfeiçoamento": Por Que Você Deve Parar de Buscar Sua Melhor Versão apareceu primeiro em Forbes Brasil.