O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou um levantamento alarmante: a cada três horas, um médico é vítima de violência no Brasil. O estudo, realizado em parceria com entidades médicas e sindicatos, traz à tona a difícil realidade enfrentada pelos profissionais de saúde em todo o país, que não apenas lidam com a sobrecarga do sistema, mas também com agressões físicas, verbais e até ameaças de morte.
O Alerta do CFM
De acordo com o relatório do CFM, mais de 2.500 casos de violência contra médicos foram registrados somente no último ano. O presidente do conselho, José Hiran Gallo, destacou a gravidade da situação, afirmando que “a violência contra os profissionais de saúde está se tornando uma epidemia dentro da própria crise do sistema público e privado de saúde no Brasil”. Ele acrescenta que o ambiente hospitalar e os postos de saúde, que deveriam ser espaços de acolhimento e cura, estão se transformando em locais de insegurança e medo para os profissionais.
Principais Tipos de Agressão
Os dados revelam que as agressões físicas correspondem a 37% dos casos, enquanto as verbais (insultos, ameaças e intimidações) representam 55%. As regiões mais afetadas são as capitais e grandes centros urbanos, mas o problema não está restrito a essas áreas; há relatos de violência até em cidades menores e regiões rurais.
Os médicos da rede pública de saúde estão entre os mais vulneráveis, principalmente em áreas de urgência e emergência. A falta de estrutura, o tempo de espera prolongado e a escassez de recursos, como medicamentos e leitos hospitalares, aumentam o nível de estresse entre os pacientes e seus familiares, resultando, muitas vezes, em ataques aos profissionais.
Consequências para os Profissionais de Saúde
Além das agressões físicas e verbais, a violência psicológica e emocional tem tido impactos profundos na saúde mental dos médicos. Muitos relatam ansiedade, síndrome de burnout e depressão, levando até ao afastamento de suas funções. “A constante ameaça de violência afeta diretamente a capacidade dos médicos de desempenharem seu trabalho com segurança e serenidade”, comentou a médica Maria Augusta Barbosa, que já foi vítima de agressão verbal em um pronto-socorro de São Paulo.
Em alguns casos, as agressões resultam em traumas físicos graves, como lesões por faca ou até mesmo tiros. Em outros, as ameaças são tão sérias que os profissionais são obrigados a pedir escolta policial para continuar trabalhando em locais de risco.
O Que Está Sendo Feito
O CFM e outras entidades médicas estão pressionando o governo e as autoridades de segurança pública a tomarem medidas imediatas para proteger os médicos e outros profissionais de saúde. Entre as propostas estão a instalação de botões de pânico em hospitais, a presença de policiais ou seguranças em unidades de saúde e campanhas de conscientização da população sobre a importância de respeitar esses profissionais.
Além disso, o Conselho tem incentivado os médicos a registrarem as ocorrências de violência, já que muitos casos ainda são subnotificados por medo de retaliação ou pela descrença de que as denúncias resultarão em proteção real.
Um Desafio Sistêmico
Para muitos especialistas, a violência contra os médicos é apenas um reflexo da crise maior que afeta o sistema de saúde no Brasil. A falta de investimentos, a precariedade da infraestrutura e a sobrecarga dos profissionais geram um ambiente de frustração tanto para os trabalhadores quanto para os pacientes, o que acaba levando a confrontos.
O secretário de Saúde de São Paulo, Carlos Ramos, admitiu que a questão é crítica e que soluções de curto e longo prazo são necessárias. “Precisamos de um plano robusto para proteger nossos profissionais de saúde e melhorar as condições de trabalho. A saúde pública não pode continuar sendo palco de violência”, afirmou.
Conclusão
O cenário alarmante descrito pelo CFM destaca a urgência de ações coordenadas para combater a violência contra médicos no Brasil. Enquanto o sistema de saúde continuar enfrentando colapsos e os profissionais forem tratados com descaso, a relação entre médicos e pacientes estará cada vez mais deteriorada, comprometendo não apenas a segurança dos profissionais, mas também a qualidade do atendimento à população.
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