Na liquidez dos tempos consumimos imagens, “conteúdos”, e agimos de forma automática, poucas coisas nos tocam ou prendem, de fato, nossa atenção. Essa apresentação busca resgatar as formas de expressão que nos tiram o ar, e nos levantam do chão, nos fazendo suspirar.
Foi durante um concerto de cordas que tive o momento de catarse. Me emocionei e chorei do início ao fim. Chorei de emoção e de saudade de criar coisas que nos elevem a um estado emocional e psicológico superior à satisfação estética, que nos arrebatam, nos elevem.
De acordo com o livro Arte Terapia (2014) de Alain de Botton e John Armstrong, a arte tem 7 razões de existir e até aqui, cada coleção minha representou cada uma delas: a esperança (Cartas para Nise), reequilíbrio (Reflexos do inconsciente), a compreensão de si (Pegasus), a apreciação (A Beleza do Cotidiano e o Tão Sonhado lado de fora), o sofrimento (Acalento), a lembrança (Relembrar e Nostalgia) e o crescimento (Cardo). Por fim, encerro um ciclo criativo de 6 anos com esta coleção, buscando a Arte pela Arte, pelo seu deslumbramento e arrebatamento lúdico sem prévia razão de existir, simplesmente para expressar aquilo que não conseguimos compreender e racionalizar. Como diria Edgar Morrin, “o homem nasce com a arte e essa é a nossa principal diferenciação”.
Em meu livro de literatura do colegial, já encontrava indícios e anotações que diziam “sinto muito, sinto tudo, sou barroca.” A vontade de resgatar esse “sentir tanto” em contraponto à dormência emocional dos dias digitais, me levou a criar “Prosopopéia”.
Coleção nomeada a partir do poema de Bento Teixeira, que dá início a literatura barroca brasileira, pela identificação que o movimento e o próprio ser poeta, que sente tanto, transmitiam a sensação que eu queria trazer para a coleção.
Esse olhar esmiuçado e otimista, além da profunda e honesta emoção ao consumir arte, são levadas às peças e em todo processo criativo que serão apresentadas em Prosopopeia. A trilha sonora será da Orquestra Sinfônica Heliópolis, iniciativa solidária do maestro Silvio Baccarelli formada por jovens. Atualmente destaca-se como um verdadeiro marco na história da música clássica. Originada na comunidade de Heliópolis, este grupo emergiu como a primeira orquestra do mundo a surgir de tal contexto. Fundada como uma orquestra de cordas através da visão e dedicação do Maestro Silvio Baccarelli, sua jornada é um testemunho de solidariedade e excelência artística.
Posicionada como um dos principais grupos sinfônicos jovens do Brasil, aclamado tanto nacional quanto internacionalmente por sua qualidade incomparável, cuja ascensão é evidenciada pelo reconhecimento global. Além disso, é a única orquestra da América do Sul a ter a distinção de ser conduzida pelo ilustre Maestro Zubin Mehta, patrono do Instituto Baccarelli desde 2005. Este encontro histórico ressoa como um tributo à missão e ao talento excepcionais da Orquestra Baccarelli, enquanto continua a cativar audiências em todo o mundo com sua música sublime.
Com grande inspiração em imagens do barroco brasileiro, a coleção traz o preto e o dourado de forma generosa, referente a abundância do ouro neste movimento, se apresentando em cintos metalizados, acessórios, botões e foil estampado em linho da Werner.
O quadro com flores de Jan Davidsz de Heem, do barroco holandês me marcou em uma exposição. Ao sair dela, vejo na rua, um vaso semelhante, colorido, por de trás de uma janela, com o vidro úmido, uma cena onde “a arte imita a vida e a vida imita a arte”. Esse momento de inspiração dá vida à estampa Mimo, criada a partir de uma ferramenta de inteligência artificial para trazer a sensação desta visão vivida por mim, com suas flores e seu blur.
A partir deste quadro, as flores tomam conta da coleção e das peças, caminhando para o alto relevo do jacquard gofrado da Innovativ Têxtil e se transformam em esculturas têxteis 3D imprimindo a carga de drama necessária à temática da coleção que se une à modelagens com mangas bufantes, ombros armados, tecidos pesados, volume, saias longas, chapéus e luvas.
Já a família Arlin com seu Chiffon e sua transparência, trazem a leveza do suspirar e a sensação de sair do chão e ser arrebatado por algo, ganhando vida e movimento no corpo de modelos e bailarinas.
A ALUF é o sonho, o lúdico, mas também é acalento e companhia no dia a dia, e isso se mostra em nossas peças versáteis como a polo com detalhe de ramo em foil dourado, fazendo a conexão da nossa linha “ALUF todo dia” com o lúdico da temática da coleção.
O veludo feito com fibra Lenzing Ecovero é desenvolvido a partir da celulose de fibras de madeira certificada, garantido um de nossos principais pilares: a sustentabilidade.
A lã da Lady Tecelagem dá a cara do inverno na coleção, com casacos e calças de alfaiataria 100% lã. O chenille aparece como variante dessas mesmas peças, com fibras recicladas e tecidas pela Ecosimple.
As peças criadas especialmente para vestir a Orquestra Sinfônica Heliópolis foram em parceria com a Vicunha. O tecido escolhido foi o “Curaçao” e “White Jeans Stretch Plus II Regen”, que são produzidos com algodão responsável, rastreável e cultivado com práticas de responsabilidade social e ambiental. Enquanto o Curaçao é composto por 86% algodão, 10% modal e 4% linho em uma estrutura de Panamá, que proporciona maciez e conforto ao toque e garante uma sensação agradável na pele, o White Jeans Stretch Plus II Regen valoriza o aspecto natural do algodão. Este tecido se destaca pelo uso de algodão proveniente da agricultura regenerativa, cultivado com métodos agrícolas que preservam a biodiversidade e contribuem para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa.
A matéria prima foi escolhida a dedo junto com a Vicunha para que os musicistas não só tivessem o corpo livre para exercer suas respectivas artes através de seus instrumentos, mas para que também sempre se sentissem confortáveis durante momentos tão importantes como em suas apresentações.
100% de nossos tecidos são nacionais, garantindo nosso comprometimento com a indústria brasileira, bandeira fincada por nós desde 2018. Outras duas marcas nacionais se unem a ALUF neste conto: Marcela Cavalheri com uma collab desenhada a 4 mãos garantindo a beleza e deslumbre de nossos brincos, colares e anéis, e a Escudero, que garante a qualidade e excelência de bolsas e sapatos.
Os ramos dourados presentes em nosso linho ganham vida e movimento 3D nas argolas, criadas a partir de um galho de eucalipto em nossa collab com a joalheria Marcela Cavalheri. Uma coleção de 8 peças entre anéis, brincos e colares, que são um convite à apreciação do equilíbrio entre delicado e dramático.
A finalização dos looks desfilados fica por conta dos sapatos e bolsas da Escudero. A nossa relação com a marca começou através de uma conexão de valores. Compartilhamos alguns dos mesmos princípios, como a escolha de matérias-primas de alto padrão e um acabamento primoroso, feito em território nacional. Além disso, a Escudero aposta no design autoral e elaborado, que pode ser visto em suas peças com recortes minimalistas. Essas características celebram uma criação atemporal que tanto admiramos, inspirada por traços arquitetônicos e tantas outras nuances observadas em sua história.
A ALUF sempre foi sobre o processo criativo e sobre a experiência, nesta apresentação, espero que vocês se emocionem com diversas formas de expressão. A Música e a Moda, unidas para lhe parar no tempo, lhe tirar do cotidiano e lhe lembrar da importância deste tipo de manifestação artística para a alma. A Bailarina Grécia Catarina do Balé da Cidade é responsável pelo suspiro da dança.
Para além de um desfile, um ODE a tudo que nos emociona, nos faz suspirar e nos tira do chão, a arte como forma de expressão.
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