Furtos preocupam população  – Jornal Tribuna Ribeirão

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Por Adalberto Luque 

A criminalidade baixou em Ribeirão Preto. De acordo com dados divulgados pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), todos os indicadores onde ocorrem ameaças e violência baixaram.  

Os números de fevereiro, revelados na segunda-feira (25), demonstraram que a maior queda ocorreu no número de veículos roubados. No primeiro bimestre de 2024 a redução foi de 40% em relação ao mesmo período do ano anterior.  

Os estupros também tiveram redução de 27,7% no total de casos em 2024. Em janeiro e fevereiro deste ano, a cidade registrou 26 casos de estupro, sendo sete de mulheres e 19 de vulneráveis. Nos dois primeiros meses de 2023 foram 36 casos no total, das quais 25 eram vulneráveis. 

Roubos registraram queda de 30,2% em 2024, comparado ao mesmo período do ano passado. E homicídios tiveram pequena queda, de 16,6%. Em 2023 foram seis casos e neste ano cinco. 

Sem trégua 

Esses números indicam a diminuição da violência. Isso, todavia, não significa que a cidade tem dormido tranquila. A modalidade crime que mais preocupou durante 2023, começou 2024 com crescimento expressivo. Os furtos continuam preocupando a cidade.  

Foram 883 furtos em geral no mês de janeiro e 760 em fevereiro. Um crescimento de 7,45% em relação ao primeiro bimestre do ano passado.  

Furtos de veículo acompanharam essa tendência e tiveram 269 casos em janeiro e fevereiro deste ano. Em 2024, o município teve um carro furtado a cada cinco horas e meia. Aumento de 25,7%. 

Nos bairros 

Se coletivamente estes resultados já preocupam os ribeirão-pretanos, em alguns bairros é ainda mais grave. De acordo com números divulgados pela SSP, nas delegacias (chamadas de DP – distritos policiais), os crimes de furtos em geral e furtos de veículos cresceram em quase toda cidade. 

Os furtos em geral só não tiveram aumento nas áreas do 2º DP (Campos Elíseos), 4º DP (Jardim América) e 6º DP (Vila Virgínia). Na região do 7º DP (Bonfim Paulista) o número foi mantido. No restante das delegacias aumentou no primeiro bimestre deste ano. 

Vila Tibério lidera casos 

A região dos Campos Elíseos liderou o ranking dos furtos cometidos em 2023. Mas em 2024 a região aparece na terceira colocação, com 285 ocorrências. A liderança no número de furtos nos dois primeiros meses de 2024 é da Vila Tibério (3º DP), onde ocorreram 319 furtos – mais de cinco por dia. 

Entre as ocorrências mais comuns estão fios elétricos de cobre, de semáforos e telefones celulares. Mas furta-se de tudo pela cidade, de bicicleta a picanha. Foi o que ocorreu, por exemplo, no dia 14 de fevereiro, quando uma mulher de 31 anos foi presa após furtar 14 peças de picanha de um supermercado no Jardim Paulistano, zona Leste. 

A vice-liderança do ranking negativo é da zona Sul. A área atendida pelo 4º DP e teve 286 furtos. Em quarto lugar vem a região central (1º DP), com 217 furtos seguida por Ipiranga (5º DP), que teve 211 casos. O 8º DP (Jardim Paulistano) registrou 168 ocorrências, o 6º DP teve 121 e o 7º DP completa o ranking com 36 furtos. 

Zona Sul na mira 

Em 2022, a Rua Paschoal Bardaro, no Jardim Botânico, chegou a registrar três furtos de veículo numa única noite. Foi em fevereiro daquele ano. Em um semestre os furtos chegaram a 10 veículos. Em 2023, com ações pontuais e prisões de quadrilhas especializadas no furto de veículos – principalmente caminhonetes de luxo – esse número caiu. 

Com muitos bares e restaurantes, a vida noturna na zona Sul atrai muita gente. E junto vem os criminosos em busca da oportunidade de furtar um carro. A região começou 2024 com uma grande alta nesta modalidade de crime. 

Nos dois primeiros meses de 2023, a área do 4º DP registrou 50 furtos de veículos. Neste ano, a alta foi de 42%. Foram 71 casos. A cada 19 horas a zona Sul teve um carro levado em 2024. Na vice-liderança aparece a região dos Campos Elíseos. O furto de veículos saltou de 41 casos em 2023 para 49 em 2024. 

Na terceira colocação está o 8º DP, do Jardim Paulistano. Foram 44 furtos de veículos. Dos oito distritos, apenas o 5º DP não apresentou alta.  

A violência pode até ter diminuído, com a queda dos casos em que ocorrem ameaças, violência e até mortes – a cidade registrou um latrocínio em 2024. Mas com a alta dos furtos, a população não consegue dormir tranquila.  

Faltam policiais 

Segundo Fátima, cada investigador recebeu em média 77 novos casos em 2024, enquanto cada escrivão tem que 530 inquéritos para concluir (Alfredo Risk) 

A presidente do Sindicato dos Policiais Civis da região de Ribeirão Preto (Sinpol), Fátima Aparecida Silva, associa a alta dos casos de furtos à falta de policiais civis. Para ela, por serem crimes de menor potencial ofensivo, acabam não sendo investigados pela Polícia Civil por conta do baixo número de policiais.  

“Além disso, quando a PM ou a própria Polícia Civil prende um furtador em flagrante, por ser um crime sem o uso de violência ou grave ameaça, o autor acaba sendo solto após audiência de custódia”, lamenta. 

O Sinpol realizou um levantamento e, em toda a área da Delegacia Seccional de Ribeirão Preto, que atende 15 cidades da região, atuam 72 investigadores. Somente nos dois primeiros meses de 2024, a SSP instaurou 5.580 inquéritos nas delegacias da Seccional.  

“Cada investigador recebeu, nos 59 dias de janeiro e fevereiro, 77 novos casos para investigar. Mais de um caso novo por dia. Isso sem contar os que ocorreram em 2023, por exemplo. No ano passado foram 31.802 inquéritos. É impossível investigar isso com um número tão reduzido”, aponta a presidente do sindicato, que é investigadora aposentada e conhece bem a questão. 

Em relação aos inquéritos, Ribeirão Preto e as outras 14 cidades contam com 54 escrivães, segundo o Sinpol. Cada inquérito precisa ser concluído em 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30 dias. A conclusão do inquérito depende de uma série de fatores, que se inicia com o trabalho do investigador, passa pela coordenação de um delegado e termina com a conclusão, redigida pelo escrivão.  

“O Sinpol fez um levantamento e concluiu que, em nossa região, nas 93 cidades do Departamento de Polícia Judiciária do Interior, o Deinter-3, cada escrivão relata em média 530 inquéritos. Ou seja, cada um deles tem 530 casos para concluir simultaneamente. Na Delegacia de Defesa da Mulher cada escrivã tem 260 inquéritos para relatar. Alguém acha que isso é possível para um ser humano?”, indaga Fátima. 

Esse conjunto, na opinião da presidente do Sinpol, colabora para a manutenção das altas nos furtos em geral e furtos de veículos. “Vejo que nos demais índices, houve queda. Nestes casos, podemos avaliar de duas formas distintas. A primeira delas é que temos realmente percebido ações das Polícias Militar e Civil contra criminosos. Me surpreende, por exemplo, os policiais da Divisão Especializada em Investigações Criminais (DEIC) que, em número tão reduzido, conseguem esclarecer diversos casos de repercussão e prender tantos criminosos. Mesmo nos distritos, o trabalho é intenso. Mas é impossível acreditar que tudo acabe sendo investigado. E isso nos dá uma nova percepção. Mesmo com violência, casos de roubos, por exemplo, se a pessoa teve um objeto qualquer levado, muitas vezes nem registra a ocorrência. Isso também ajuda a diminuir os índices de criminalidade, mas pela falta de ocorrência”, explica. 

Para Fátima, a falta de policiais civis é algo que precisa ser tratada com bastante vontade política pelo governo do Estado. “Só em Ribeirão Preto seriam necessários mais 50 investigadores, 50 escrivães e 20 delegados, para um trabalho minimamente aceitável no atendimento à população. Menos que isso é chover no molhado”, encerra. 

SSP destaca resultados positivos 

Em nota a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) diz que se mantém atenta à variação dos índices criminais e “tem concentrado esforços para combater todas as modalidades criminosas, incluindo os crimes patrimoniais em Ribeirão Preto”.  

Segundo a SSP, os resultados, como mostrado na reportagem, são positivos no município. “A atuação das polícias no primeiro bimestre deste ano resultou na queda de 29,3% dos roubos em geral e de 40% dos roubos de veículos, em comparação ao mesmo período de 2023. Além disso, 425 infratores foram presos e apreendidos na cidade, 203 a mais que no primeiro bimestre de 2023. As ações policiais também estão focadas no combate à receptação de produtos roubados e furtados, por meio da fiscalização de desmanches, lojas de venda de celulares e peças automotivas e ferros velhos. As polícias Civil e Militar monitoram os índices de criminalidade e realizam trabalhos ostensivo, preventivo e investigativo a fim de coibir os casos, bem como identificar e prender os autores dos crimes.” 

“Para os casos de estupro, a SSP ressalta que o governo faz campanhas frequentes para incentivar as mulheres a denunciar os agressores.  As denúncias podem ser feitas em qualquer delegacia do Estado e também pela DDM Online. A DDM também está integrada em outras esferas governamentais, participa de operações nacionais e mantém parcerias com a Secretaria de Políticas para a Mulher, que tem, entre suas ações, o protocolo ‘Não se cale’”, conclui a nota. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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