Edwaldo Arantes *
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Tenho uma longa história de amizade e relacionamento com o Pinguim, assíduo frequentador com meus chopps em colarinho alto.
Minha familiaridade era tão profunda com a casa, que em todos os meus aniversários era agraciado com um pingüim, com o meu nome gravado e a data, 19 de maio, devo ter ganho uns 40 ou mais.
Aos sábados, abria às 11h, eu já podia entrar às 10h, a fila começava a crescer, chegando até o final do quarteirão.
Ao abrirem as portas era o estouro da boiada, como se dizia nas minhas Minas Gerais. Hoje, os gados são sinônimos de otários e otárias, clamando pelo retorno dos militares, golpistas vestidos de verde-amarelo.
Foram muitas e muitas histórias. Certa vez, uma quarta-feira, pouca gente, estava sozinho ao balcão, entrou um rapaz alto, rosto lívido, trajando uma casaca preta, na mais fina elegância, cumprimentou-me e encostou-se ao meu lado.
Era ninguém menos que o brilhante pianista Arthur Moreira Lima Jr, que durante o intervalo foi saborear o néctar da casa. Sorveu rapidamente três chopinhos. Como carioca, pediu “careca”, um crime, imediatamente inocentado. Trocamos algumas palavras e ele perguntou-me:
– Vais ficar aqui?
– Até fechar, respondi.
Ele sorriu quase uma risada dizendo, volto após o concerto.
Ficamos conversando até as portas fecharem.
Acompanhei-o até ao hotel, os dois, em um porre homérico, que nunca esqueci, um papo memorável.
Quando o Pinguim completou 75 anos, uma semana antes, a TV Cultura de São Paulo solicitou uma matéria sobre sua história. Foi agendada uma entrevista e filmagens da casa.
Paulo Ferreira, querido amigo Paulinho, sócio-proprietário, procurou-me dizendo que não poderia participar, pois estaria em Belo Horizonte em uma visita à unidade de lá.
Disse que eu seria a única pessoa que poderia substituí-lo para a entrevista, pois nem ele mesmo conhecia tão bem a trajetória como eu. Senti-me emocionado e honrado pela confiança depositada e aceitei com muita alegria, mesmo conhecendo, pesquisei muito.
Na segunda-feira, às 19h, a equipe chegou com uma belíssima jovem que seria a entrevistadora.
Escolhemos uma mesa, o Luizão foi o garçom, iniciamos a conversa. Ela fez diversas perguntas, respondi e expliquei sobre todas, sendo que uma ficou marcante pela história que sempre corria, contribuindo para a fama nacional
A lenda de que um duto subterrâneo levava o chope da antiga Cervejaria Antárctica, na Avenida Jerônimo Gonçalves, direto para as torneiras da unidade na Praça XV de Novembro.
Como bom mineiro, respondi, olha, eu não sei se é verdade ou mentira, mas um dia vi um cano surgir de um paralelepípedo solto. Ela riu, continuamos nossos chopinhos, saboreando as deliciosas porções do lugar.
Encerrando a saga, encontrava-me sentado sorvendo as tulipas com o chopp muito bem servido.
Era amigo de todos os garçons, um deles, alto, compenetrado, mas extremamente gozador era o Gaúcho, um tempo depois três clientes foram até a minha mesa e um deles, bem admirado indagou:
– O senhor é o dono do Pinguim?
Eu não tive saída, com a voz quase sumida, disse que sim.
– Que honra, muito prazer, somos de Uberaba.
Voltaram para a mesa e horas depois um deles retornou e explicou: Nós pedimos a tradicional “saideira” por conta da casa, o garçom falou que era norma do estabelecimento não conceder, devíamos pedir ao senhor.
Na hora, vinguei- me do Gaúcho e respondi:
– Se ele pagar a rodada está autorizado.
* Agente cultural
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