O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto vai começar na próxima sexta-feira (15) o teste de terapia celular contra o câncer. De acordo com a USP (Universidade de São Paulo), terá início a inclusão dos candidatos no estudo clínico das fases 1 e 2 no tratamento com células CAR-T em pacientes com linfoma e leucemia.
O tratamento foi desenvolvido no CTC (Centro de Terapia Celular), no Hemocentro de Ribeirão Preto. O tratamento é destinado para pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional.
O início do estudo foi anunciado na semana passada durante a Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, e vai tratar 81 pacientes até o ano que vem.
“Inicialmente serão quatro pacientes tratados no Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto. Os dados serão então submetidos à Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para avaliação da segurança e, se tudo correr bem, os outros centros envolvidos no estudo poderão começar a tratar outros candidatos”, disse à Agência Fapesp Diego Clé, coordenador médico do Hemocentro de Ribeirão Preto.
Além do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, participam do estudo o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP em São Paulo, o Hospital de Clínicas da Unicamp e os hospitais Beneficência Portuguesa e Sírio-Libanês, em São Paulo.
O que é?
O tratamento com células CAR-T foi desenvolvido em 2017 nos Estados Unidos e, desde 2019, no Brasil, pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, em colaboração com o Instituto Butantan e apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
A técnica consiste na retirada de linfócitos do próprio paciente, que são manipulados em laboratório e reaplicados no organismo. O objetivo é preparar os linfócitos para identificar e eliminar células tumorais que não foram detidas por outros tratamentos como quimioterapia e transplante de medula.
O Hemocentro de Ribeirão Preto abriga a única fábrica de células CAR-T da América Latina, uma das poucas no mundo que não pertencem a grandes indústrias farmacêuticas.
Até hoje, 20 pessoas foram tratadas com as células preparadas no Núcleo de Terapia Celular Avançada de Ribeirão Preto (Nutera-RP). O núcleo pode preparar até 300 tratamentos por ano.
Na iniciativa privada, o tratamento importado pode custar até R$ 2 milhões por paciente. O nacional, que pode ser adotado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), poderá sair por um sexto desse valor.
Pacientes
Os primeiros quatro pacientes tratados no Hospital das Clínicas terão o sangue colhido, de onde os linfócitos T, um tipo de célula de defesa, serão isolados e modificados no Nutera-RP. Esse processo leva de 15 dias a um mês.
Depois de internados, os pacientes receberão então uma infusão das próprias células, agora reprogramadas para atacar as células tumorais. Serão 15 dias de internação para acompanhar os possíveis efeitos colaterais, resultado da inflamação provocada pelo tratamento.
Após a alta, o paciente seguirá sendo acompanhado em consultas semanais, até ter a primeira avaliação de eficácia do tratamento, após 30 dias da infusão. Os testes serão repetidos após 90 dias do início do tratamento. Todos os pacientes serão monitorados por cinco anos como parte do estudo.
*Com informações de Carlos Fioravanti, da Revista Pesquisa FAPESP.
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