Seguindo a tendência dos profissionais da geração Z de gravar e postar no TikTok o momento em que estão sendo demitidos, viralizou na última semana um vídeo da demissão da brasileira Alana Martins, de 23 anos. Segundo os líderes e pessoal dos Recursos Humanos, Alana não tinha “fit cultural” com a empresa.
Depois de publicar o vídeo, que soma 5,8 milhões de visualizações até o momento em uma conta recém-criada por ela, Alana usou o perfil para explicar o motivo da demissão. Ela trabalhava como UX designer em uma empresa no Paraná.
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De acordo com a profissional, a companhia decidiu encerrar o contrato depois que ela se negou a disponibilizar gratuitamente, para todos os funcionários da empresa, conteúdos educacionais produzidos por ela. Os vídeos fazem parte de uma série de aulas que ela ministrou, a pedido da companhia, para capacitar futuros funcionários.
Em outro vídeo no seu TikTok, é possível ouvir alguém da gestão questionando a performance da funcionária, e também a falta de conexão com a cultura organizacional, por não permitir o compartilhamento dos conteúdos.
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O que é fit cultural
Nos comentários, os usuários questionam o que é fit cultural. “O termo se refere ao grau de compatibilidade entre os valores e crenças de um funcionário e os valores, crenças e comportamentos que determinam a cultura da empresa”, diz Janine Goulart, sócia da KPMG e líder da área de pessoas.
Ok, mas o que é exatamente a cultura de uma organização? É esse “jeitão” de uma organização, como definiu Caio Barroso em um vídeo em seu perfil do Instagram, o Lá na Firma. Basicamente, são as práticas que prevalevem na empresa, o conjunto de atitudes, maneiras de fazer cada coisa. A cultura geralmente está ligada aos valores do fundador e, conforme a empresa cresce, é passada para os funcionários e reafirmada pelas lideranças. Ela define as regras não ditas e também as diretrizes daquele espaço: o que é esperado dos funcionários, o que todo mundo faz ou não deve fazer de jeito nenhum.
Ao entrar em uma nova empresa, o profissional precisa fazer a leitura do ambiente e se posicionar levando em conta a cultura – ou seja, a forma como as coisas são feitas e as relações acontecem naquele ambiente. Existem empresas que dão mais liberdade aos funcionários, outras que exigem um comportamento mais estrito, algumas são tradicionais e demoram para fazer mudanças, enquanto outras são voltadas para a inovação, onde tudo precisa ser muito rápido. Como em qualquer relação, nem todo mundo vai se adaptar a uma determinada cultura, e, pensando no desenvolvimento de carreira, pode fazer mais sentido sair do que se frustrar nesse ambiente.
Em geral, a cultura é ditada pelos líderes, mas todos os funcionários também têm um papel importante na manutenção dos valores e das relações. “Reconhecer os colegas, se esforçar para se conectar com o time, celebrar a conclusão de projetos entregues com qualidade são pequenos gestos que fazem grande diferença no dia a dia”, afirma a sócia da KPMG.
Para a designer que viralizou no TikTok, o argumento da falta de fit cultural não fez sentido. “Eu levava bolo para a empresa, ajudei a montar a decoração da festa de Halloween e respondia mensagens de trabalho fora do horário”, disse ela, que sentia estar em linha com a companhia.
A conexão cultural é importante para a boa convivência e também para os negócios – já que ajuda no engajamento, na produtividade e retenção de talentos –, e pode, sim, ser motivo de demissão, segundo Goulart. “É muito importante que sempre exista transparência na relação entre o colaborador e a empresa.”
Martins também demonstrou estar com um misto de emoções depois da demissão. “Sem chão, mas muito feliz”, diz ela. Ela teria se aberto para os gestores sobre problemas de saúde mental que estava vivendo. “Eles culparam a geração Z”, disse ela, que também questiona como essa exposição pode prejudicar sua carreira. “Quem vai querer me contratar agora?”
Gen Z, tabalho e TikTok
Vídeos como o dela bombam na plataforma. A #quittok tem quase 80 milhões de visualizações.
Muitas das novas tendências profissionais recentes também saíram do TikTok, como quiet quitting, rage applying (funcionários que se candidatam a vagas de emprego por estarem frustrados com o próprio trabalho) e act your wage (ou trabalhar com esforço proporcional ao seu salário).
Martins também compartilhou o caso no LinkedIn, explicando como funciona a geração Z, da qual faz parte. “É ansiosa, é internet, é frágil, mas também somos muito rápidos, muito compreensivos e parceiros.”
E também pediu que as lideranças tenham paciência com os profissionais que acabam de entrar no mercado. “Por favor gestores, aprendam a gerir essa nova geração. Peço com carinho que nos ensinem a trabalhar, ainda somos jovens, não sabemos.”