Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
*com informações e imagens da assessoria do HC
A vida de quem precisa de uma prótese poderá ficar mais fácil, confortável e com maior autonomia a partir de uma nova técnica cirúrgica em implantação no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Em dezembro foi realizada uma cirurgia inédita em paciente amputada há quase 34 anos.
Chamada de osteointegração, a cirurgia consiste em colocar um dispositivo dentro do osso, com o objetivo de estabelecer conexão biológica sólida entre o osso e o material feito de titânio, proporcionando uma ancoragem estável e duradoura. O procedimento pode ser comparado à técnica de implante dentário.
O processo de osteointegração ocorre ao longo de vários meses, durante os quais as células ósseas crescem e aderem à superfície do implante, formando uma união sólida. Esse enraizamento no osso é essencial para garantir a estabilidade do implante e o sucesso a longo prazo do procedimento.
“A osteoeintegração é semelhante ao implante dentário. Usamos o mesmo método. Com o tempo, o osso penetra em vários poros desse metal, de tal forma que fique uma coisa muito firme e muito estável. Como se realmente os dois materiais, o osso e o metal, eles interagissem, se interdigitassem, de tal forma que fique como se fosse uma estrutura única firme e estável”, explica o professor Edgard Engel, do Departamento de Ortopedia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/FMRP-USP, coordenador do Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas.
Início – A técnica foi introduzida no Brasil pelo cirurgião oncológico do Hospital do Câncer de Pernambuco, Marcelo Souza, que realizou a primeira cirurgia no Brasil em maio de 2022. De lá para cá foram realizadas 13 operações. A primeira no HCRP foi realizada no último dia 20 de dezembro.
A cirurgia foi realizada pelo médico pernambucano ao lado de profissionais da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e do Hospital das Clínicas. A paciente escolhida foi Sílvia Martinelli. Há 34 anos, ela foi atropelada por um carro e os médicos precisaram amputar a perna esquerda.
Desde então, ela usa próteses que não dão a mobilidade que precisa e causam dores. Ao longo desse tempo Sílvia cultivou um sonho. “Meu sonho é andar melhor, é andar melhor”, reafirma com a certeza de que a cirurgia pode realizá-lo. Depois do procedimento a paciente passa bem e está ansiosa para testar a inovação.
Para o ortopedista oncológico Nelson Gava a cirurgia permitirá a ela “não só melhorar a qualidade de vida, mas também aumentar o tanto que a pessoa anda com a prótese (nova) e com melhor encaixe da prótese”, destaca o médico. A longo prazo essa nova modalidade de cirurgia ainda promove economia já que as próteses tradicionais precisam ser trocadas com o tempo e desgaste de uso. “Esses liners que tem que colocar, tipo meia, gasta muito rápido e todas elas são muito caras e com a prótese em osteointegrada a gente elimina tudo”, comemora o especialista.
Neste ano mais pacientes da região serão beneficiados nesta primeira etapa de cirurgias. Sílvia espera poder voltar a utilizar a andar, com a nova prótese que terá encaixe simplificado, em quatro meses. Enquanto isso precisa utilizar muletas e fazer exercícios para fortalecer a musculatura para manter o equilíbrio e segurança ao caminhar. Mas não reclama, pelo contrário, está feliz e agradecida com a nova oportunidade.
PRONAS – O Hospital das Clínicas captou cerca de R$ 4 milhões com o Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência e vai realizar, em 2024, 30 cirurgias com pacientes pré-selecionados. O programa permite que empresas abatam 1% do imposto de renda e repassem para projetos ligados à saúde.