Escândalo da Americanas (AMER3) completa 1 ano com Lemann e sócios mais ricos, plano aprovado e troca de acusações

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Maior escândalo da história do mercado de capitais brasileiro, a fraude contábil na Americanas (AMER3) completa um ano nesta quinta-feira (11) ainda com muitas peças soltas. Entre elas, a investigação dos responsáveis pelo rombo de R$ 25 bilhões na varejista.

A Americanas atribui o esquema à antiga diretoria, sob o comando do ex-CEO Miguel Gutierrez. Mas o executivo argumenta que várias das decisões da companhia passavam pelo conselho de administração.

Em meio à busca pelos culpados, a empresa conseguiu uma vitória no fim do ano passado com a aprovação do plano de recuperação judicial pelos credores.

A principal peça do plano é a injeção de R$ 24 bilhões em capital. Metade do dinheiro virá da conversão de dívidas que os bancos credores possuem em capital.

Os outros R$ 12 bilhões virão dos acionistas de referência — o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles Carlos Alberto Sicupira. Eles já adiantaram R$ 1,5 bilhão para a varejista manter as operações, mas ainda assim terminaram o ano de 2023 mais ricos do que começaram.

Desde a revelação dos problemas bilionários no balanço, a Americanas perdeu mais de 90% do valor na B3. Por volta das 11h desta quinta-feira, as ações AMER3 recuavam 2,38%, a R$ 0,83. A varejista vale aproximadamente R$ 750 milhões na bolsa, uma fração dos quase R$ 11 bilhões de um ano atrás.

O Seu Dinheiro resume em cinco pontos o que sabemos sobre a situação da varejista. Leia mais a seguir:

1 – Como aconteceu a fraude contábil na Americanas

De forma bem simplificada, a fraude contábil na Americanas teve origem em contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), de acordo com o relatório dos assessores jurídicos da companhia.

Os VPCs são incentivos comerciais usuais no setor de varejo, quando fornecedores pagam para ter maior destaque de seus produtos, por exemplo.

O problema, no caso da Americanas, é que eles teriam sido artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais.

Havia, portanto, uma redução na conta de fornecedores no balanço. Mas como essa operação fraudulenta não tinha efeito no caixa, a companhia se valia de empréstimos bancários para equilibrar o balanço.

2 – Troca de acusações

O relatório da assessoria jurídica da Americanas apontou a participação na fraude do ex-CEO Miguel Gutierrez e outros seis executivos na fraude bilionária e isentou isentou o conselho de administração.

Do seu lado, Gutierrez negou que soubesse da situação contábil da Americanas. Ele ainda sugeriu que Carlos Alberto Sicupira e Paulo Lemann, filho de Jorge Paulo Lemann, sabiam da existência dos problemas — ambos são membros do conselho. A empresa “refutou veementemente” as alegações do ex-CEO.

Vale destacar que o comitê independente que a Americanas criou logo após a descoberta do rombo ainda não entregou as conclusões da investigação.

3 – Diluição à vista na Americanas

A capitalização de R$ 24 bilhões prevista no plano de recuperação da Americanas traz um efeito colateral para os acionistas minoritários. Isso porque quem não participar colocando dinheiro novo sofrerá uma diluição brutal da participação.

Pelos cálculos da própria Americanas, a fatia dos minoritários na empresa deve sair dos atuais 69,9% para 2,5% caso ninguém opte por entrar na capitalização.

Enquanto isso, os acionistas de referência passarão a deter 49,3% da companhia nesse cenário e os bancos credores, 48,2%. Lembrando que a capitalização ainda dará direito a um bônus de subscrição para cada três ações.

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4 – Lemann e sócios mais ricos

Acionistas de referência da Americanas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira tiveram de abrir a carteira para socorrer a varejista, da qual são sócios desde o início dos anos 1980.

Os empresários já desembolsaram R$ 1,5 bilhão em financiamento para a companhia e devem adiantar mais R$ 3,5 bilhões. Ambos os valores fazem parte dos R$ 12 bilhões que o trio já se comprometeu a colocar na futura capitalização da empresa.

Apesar de toda a dor de cabeça (e no bolso), a Americanas representa hoje uma parcela pequena do patrimônio de Lemann, Telles e Sicupira.

Tanto que a fortuna do trio até aumentou no último ano, graças à valorização das ações da cervejaria AB Inbev e da RBI, dona da rede fast food Burger King.

Homem mais rico do Brasil, Lemann tem uma fortuna avaliada em US$ 23,8 bilhões (R$ 116 bilhões), de acordo com o ranking atualizado da Bloomberg.

5 – O futuro da Americanas

Após a reestruturação, a Americanas pretende deixar a disputa pelo varejo eletrônico em segundo e ter como alicerce a rede de lojas físicas, de acordo com Leonardo Coelho, CEO da companhia.

A operação digital deve complementar a atuação, principalmente como marketplace, como plataforma de vendas de terceiros.

O plano também prevê a venda de ativos, como a Hortifruti Natural da Terra e a Uni.Co — dona de marcas como Imaginarium e Puket.

A Americanas estabeleceu como meta (guidance) chegar ao “fim do túnel” da crise no fim de 2025. A expectativa da companhia é chegar lá com uma posição de caixa líquido (incluindo os recebíveis de cartões) — contra uma dívida líquida de R$ 26,3 bilhões no fim de 2022.

Ainda dentro do guidance para 2025, a companhia espera alcançar um Ebitda (indicador que o mercado costuma usar como medida de geração de caixa) de R$ 2,2 bilhões. Considerando o pagamento de aluguéis, o Ebitda deve ser da ordem de R$ 1,5 bilhão.



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