Passamos por coisas malucas em 2023.
Erramos alguns trades e acertamos outros.
E o que é pior: erramos alguns trades dotados de razão e acertamos outros por pura sorte.
Que vergonha!
Você é maduro o suficiente para conviver com falhas e sucessos que não lhe pertencem?
Nem sempre é fácil falar em meritocracia no mercado financeiro; graças ao path dependence, algumas benesses aleatórias podem transformar homens comuns em heróis, e alguns desvios de interpretação podem transformar heróis em vilões.
É como na Ivy League: as melhores vagas não estão reservadas para os melhores candidatos.
Quando eu fui introduzido intelectualmente ao mercado financeiro, a pessoa que era supostamente uma referência para minha formação me disse:
“No mercado, não existe juízo moral, nem preocupações epistemológicas; o valor de cada indivíduo é medido estritamente pelo seu saldo bancário. Pode parecer uma abordagem pueril das coisas, mas é assim que funciona, e funciona pois se trata de uma medida objetiva e que interessa tanto aos vencedores quanto aos que ambicionam vencer”.
Isso foi quase vinte anos atrás, e eu ainda estou me digladiando com essas aspas; como sou ingênuo!
Seria fácil dizer que isso tudo é mentira, que condiz apenas com uma visão utilitarista do financismo, e que há inúmeras pessoas honestas e inteligentes trabalhando na Faria Lima, plenamente dotadas de senso crítico.
Mas também há muita verdade naquelas aspas.
Está incrivelmente certo e errado ao mesmo tempo.
Essa pessoa – a pessoa que me falou isso, e que ambicionava vencer – provavelmente se viu vitimada pela própria armadilha.
Depois fui conhecendo outras e outras pessoas que sucumbiram ao mesmo vício.
No mercado financeiro, um indivíduo inteligente que não tenha um saldo bancário compatível com sua inteligência corre o seríssimo risco de enlouquecer.
Ele começará achando que é uma questão de injustiça transitória, mas que a hipótese de mercados eficientes acabará levando cada um para seu lugar de merecimento.
Então, o tempo passará e ele seguirá parado no mesmo ponto, quando não tiver o azar de recuar algumas casas, graças ao aperto monetário da vez.
Depois, mais algum tempo passará, nada acontecerá a ponto de premiá-lo, e ele terá se tornado um louco.