A Águia, o Cisne e o racismo 

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André Luiz da Silva * 
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Fundado em 11 de abril de 1923, no bairro de Oswaldo Cruz, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela é a única agremiação que participou de todos os desfiles de escolas de samba da cidade, sendo a maior vencedora com 22 títulos, seu símbolo é a Águia. 
 
A Portela possui a tradição de valorizar sua gente e além da reverência a baluartes como o fundador Paulo da Portela, o ex-presidente Natal, a porta-bandeira Dodô e os compositores David Corrêa e Monarco, sempre evidencia sua velha guarda. Além de samba, promove várias atividades sociais, entre as quais, o Projeto Portela por Direitos, em parceria com o Ministério Público Federal, que debate temas como racismo, reparação e intolerância religiosa e o samba. Segundo a diretora do Departamento de Cidadania da escola, Hellen Mary “Chega, acabou o tempo de sermos humilhados, escorraçados e apanhando. Quando digo a palavra ‘apanhando’, é apanhar em todos os sentidos. Apanhar na educação, na nossa moral. Nós temos que ter direitos e ocupar nossos espaços através do nosso conhecimento, do letramento racial, de sabermos quem nós somos e quais são nossos direitos e nossos deveres”. 
 
A fala ocorreu em outubro, um mês antes de Vilma Nascimento, de 85 anos, porta-bandeira histórica, considerada o Cisne da Passarela, ser homenageada em sessão solene na Câmara dos Deputados para marcar o Dia da Consciência Negra. No dia 20 de novembro, ela desfilou no corredor do plenário, fazendo uma espécie de abre-alas para a exposição “Pensamento Negro no Brasil: uma Conexão Ancestral”, que tem um painel dedicado a ela. No dia seguinte, acompanhada de sua filha Danielle Nascimento, Vilma foi vítima de uma abordagem racista na loja Dufry Brasil do Aeroporto Internacional de Brasília, sendo acusada de furto, submeteu-se a uma revista vexatória. 
 
O caso, que foi amplamente divulgado nas redes sociais causando indignação e revolta não é isolado. Aeroportos e shopping centers são considerados alguns dos espaços mais hostis às pessoas negras e confirmam que racismo é um problema estrutural da sociedade brasileira. 
 
Em nota de repúdio a Portela destacou que a “A luta por uma sociedade mais justa e humana passa pelo combate ao racismo”. Lembrou, ainda, que “Vilma é um dos ícones da Portela e do carnaval. É uma sambista de destaque, que traz na pele a marca de nossa ancestralidade. O constrangimento, demonstrado nas imagens divulgadas, é sentido por todos que temos no samba parte importante de nossa identidade, e que enxergamos em Vilma uma de nossas grandes referências. Em nome dessa ancestralidade, que orgulhosamente compartilhamos e exaltamos, levantamos nossa voz pedindo para que o caso seja apurado pelas autoridades. Este é um dever do Poder constituído não apenas para com os sambistas, mas para toda a população preta de nosso país, que não admite mais ser discriminada em lugares públicos”. 
 
Segundo o dicionário de filosofia Nicola Abbagnano, consciência é a percepção e o conhecimento da realidade histórica e contemporânea que o indivíduo está inserido. Nesse sentido, Consciência Negra significa reconhecer e valorizar a luta dos negros, a cultura negra brasileira e suas contribuições para a constituição de nossa sociedade. Também enxergar a realidade de discriminação, preconceito, racismo e violência, sofrida por milhões de brasileiros, por conta de sua cor, cabelo ou aparência. A consciência negra e o combate ao racismo, são missões que todos nós, negros e brancos, devemos assumir. 
 
Na simbologia, a Águia e o Cisne são aves majestosas que representam a beleza, a força e a pureza. Na realidade cotidiana, o racismo é um cruel instrumento que destrói sonhos, fere e mata pessoas negras. 
 
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

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